terça-feira, setembro 13, 2005

Borderline happiness

Em 'A Insustentável Leveza do Ser', logo que Franz deixa sua mulher, Marie-Claude, para ficar com sua amante Sabina, e esta o abandona por temer tornar público aquele relacionamento que ela apreciava tanto pelo seu caráter privado, ele se vê sozinho e pela primeira vez independente, de sua mãe, de Marie-Claude, de Sabina, e de sua filha Marie-Anne, e após um breve momento de desatino experimenta uma sensação de liberdade e uma felicidade, um bem-estar, uma alegria que seriam impossíveis se tivesse continuado sua vida como estava.

No momento em que Sabina resolveu deixar-lhe, ela lhe deu a vassoura com que varrer todas as responsabilidades e interdependências. Tornou-se um espírito livre, por assim dizer. Desprendeu-se de seu antigo grande apartamento burguês, foi viver num combinado com uma de suas estudantes. Casar-se-á com ela.

Balela.

Para mim, o que ele está experimentando é o que eu vou chamar (talvez erroneamente) de borderline happiness. Felicidade limítrofe. Ela se estabelece num momento em que a pessoa não vê outra saída a não ser forçar-se a sorrir, uma espécie de euforia induzida pela iminência da depressão. Mas manter-se assim é como tentar andar sobre papel-arroz; o que a mantém neste estado de euforia (e a impede de cair em depressão) é uma frágil superfície que pode se romper à menor turbulência.

1 comentários:

Blogger Toni Barros disse...

Comentários antigos:

não preciso dizer nada pq eu nunca digo oras..nunca sei o q dizer..sei lá..é difícil se dizer uma coisa quando vc quer dizer oq a pessoa quer ouvir..então é melhor ficar calada.. =*
sarah | 04.08.05 - 2:26 am | #

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Carla: Talvez eu seja muito ingênuo, mas... eu acredito numa felicidade perene, apenas pontuada (porque não poderia ser diferente) por alguns momentos de melancolia.

Aroldo: Não se trata apenas de livrar-se das responsabilidades. Franz poderia ser realmente feliz com tudo isso, se isso fosse o que ele queria. (teria que arcar com as conseqüências, é claro, mas poderia ser feliz) A questão é que ele não está fazendo o que queria, ele apenas encontrou uma solução paliativa fácil para o problema. O que ele queria, mesmo, era estar com Sabina. Ele não pode. Para Marie-Claude ele não consegue voltar. O que lhe resta? Chutar o balde e convencer-se de que foi melhor assim.
Toni | Homepage | 01.08.05 - 8:56 pm | #

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O centro não é a rapidez da felicidade. É a futilidade dela.

Troca-se algo com sentido para algo completamente sem responsabilidades e sem sentido.

Por alguma razão, as responsabilidades são associadas negativamente a tudo isso. Quer dizer, simplesmente, que ele é uma pessoa que foge delas e não consegue lidar saudavelmente de outra forma.

Ele é um cara que foge. Entende?
Aroldo | Homepage | 01.08.05 - 4:57 pm | #

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e isso não é exatamente A felicidade? uma dose considerável de serotonina causada por quaisquer eventos e que se deteriorará eventualmente, cedo ou tarde? me parece - talvez esteja sendo cinica - que happiness borderline é uma redundância... a euforia da liberdade, no entanto, não duraria muito tempo pois não somos animais construidos para sermos livres. a liberdade perene é a conquista de uma vida de decepções.
- - gostei do patinho!
carla | Homepage | 30.07.05 - 5:43 am | #

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Tudo é uma questão de ponto de vida ... se ela pega a única opção e transforma em felicidade, não acho que seja tão frágil assim. Abraço
Thiago | Homepage | 30.07.05 - 1:07 am | #

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Isso tem tanto a ver com o que eu quero dizer, que vou fazer mais um comentário.

Talvez a saída dessa estúpida "felicidade" seja o bom e velho: "Stick around and work it out".

(Fique e resolva)

Afinal, quando ele se apaixonou pela ex-mulher, ele não tinha visto nela uma aprisionadora. Ou ele teria se casado com alguém que fazia ele infeliz?
Aroldo | Homepage | 29.07.05 - 1:05 pm | #

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I totally agree.

Evitem esse tipo de "fuga". É muito tentadora, porém muito traiçoeira...!

Quase como terminar um relacionamento e beijar alguém que, à primeira vista, parece mais interessante.
(ela sempre mostra algo pior depois)
Aroldo | Homepage | 29.07.05 - 12:48 pm | #

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Não sei se eu entendi exatamente o que você quis dizer...
Toni | Homepage | 29.07.05 - 12:11 pm | #

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não preciso dizer nada né? =/ =*
sarah | 29.07.05 - 1:26 am | #

setembro 13, 2005 12:20 AM  

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